Excetuando as pedras e metais preciosos que só são descartados acidentalmente e outros tipos de metais e materiais que são em parte reciclados, qualquer bem durável ou não, independentemente de seu valor de aquisição, um dia qualquer, seja qual for a escala de tempo utilizada, será descartado e transformado em lixo.
Nos dias de hoje e principalmente nos países desenvolvidos, com a evolução dos processos de fabricação, do desenvolvimento da tecnologia e dos materiais e do fluxo contínuo de lançamentos de novos modelos, motivado não só pela evolução técnica mas também pela concorrência comercial desvairada e facilidades de crédito disponíveis, esta afirmativa torna-se cada vez mais real e assustadora.
O volume de lixo descartado em todo o mundo cresce numa proporção alarmante, evoluindo silenciosamente e de tal forma que passa desapercebida para a maioria das pessoas.
Não é somente o chamado lixo doméstico que por si só já representa uma parcela considerável e que é composto em sua maioria de detritos orgânicos biodegradáveis, acrescido no entanto de um percentual cada vez mais elevado de embalagens e vasilhames metálicos e plásticos não degradáveis e poluentes, como também do proveniente da obsolescência precoce de vestuário, calçados, mobiliário, eletrodomésticos e até mesmo de aparelhos eletrônicos em geral, que devido à pequenos defeitos cujo custo de reparo muitas vezes não é compensador, comparado com o preço de um novo, ou simplesmente porque não estão de acordo com as tendências da moda, são simplesmente descartados para dar lugar a modelos novos.
Até mesmo a fabricação de um novo bem, por si só já é geradora de lixo. Refiro-me aos refugos resultantes dos processos produtivos, muitas vezes transformando os insumos básicos em compostos químicos inaproveitáves, indesejados e muitas vezes tóxicos e perigosos ao meio ambiente, como também aos materiais utilizados nas embalagens, que perdem sua utilidade logo ao chegar ao domicílio do consumidor final, compostos principalmente de madeiras, papelão, injetados, folhas e fitas plásticas e que em sua maioria não são reciclados.
Tomemos como exemplo a inocente compra de uma nova escova de dentes. Só essa singela troca vai gerar lixo; a escova antiga e a embalagem de cartolina e plástico da nova.
Os EUA produzem algo em torno de 25% do lixo mundial a despeito de sua população de 300 milhões de habitantes significar menos que 5% do total dos seres humanos do planeta. Segundo a U.S. Enviromental Agency , cerca de 236 milhões de toneladas de lixo sólido foram recolhidas em 2005 pelos serviços municipais urbanos americanos e cabe observar que nesse total só está estimado o lixo metropolitano doméstico e parte do comercial, não estando considerado os enquadrados em outras categorias, nem aquele produzido pela população rural.
Em 1960 o nível de geração de lixo nos EUA era um terço do que o é hoje em dia, em que cada americano é responsável em média pela produção anual de 780 kg de materiais e produtos diversos jogados fora.
As Nações Unidas e outras fontes estimam que um total situado entre 1 a 1,3 bilhões de toneladas de lixo que foram descartadas no mesmo período em todo o mundo.
Papel, papelão, plásticos, alumínio e restos de alimentos representam a maior parte do total dos refugos recolhidos.
Essa estimativa do lixo produzido é feita seguindo diversas metodologias, sendo o critério mais comumente usado, aquele que mede o lixo municipal sólido coletado e que engloba o doméstico e parte do comercial. Outros critérios incluem o lixo eletrônico, o químico e geralmente nocivo a saúde, o reciclável que representa cerca de 30% nos EUA e muito mais em países como o Japão, o não reciclável cujo destino é qualquer aterro sanitário e outros mais.
Até três ou quatro décadas atrás, a vida útil de um calçado era bem maior se comparada com a de um modelo atual, não só pela qualidade dos materiais utilizados e pelo esmero de fabricação, como também pelos vários consertos à que podia ser submetido através da figura do sapateiro. Mas onde se encontra hoje em dia um sapateiro? É certo que ainda restam alguns escondidos e quase totalmente desconhecidos da maioria da população. É uma profissão fadada a extinção.
Lembro-me perfeitamente que na minha época de rapaz, e não me considero tão velho assim, era comum o jovem quando entrava na adolescência, ganhar dos pais um relógio de pulso, que muitas vezes o acompanhava pela vida afora. Hoje em dia, qual de nós não tem no mínimo três, quatro ou mais, que são usados conforme a ocasião ou combinando com a roupa que estamos usando, não esquecendo de mencionar aqueles outros esquecidos em algum canto de qualquer armário, com suas baterias deterioradas ou pulseiras arrebentadas, que mais dia menos dia irão para o lixo também, e, dessa forma arrastando também para o ostracismo a antiga profissão de relojoeiro, que hoje está quase totalmente travestida para simples trocadores de baterias.
Vivemos a era do descartável. Móveis, eletrodomésticos, quase tudo, enfim, teve sua vida útil reduzida, fato este que certamente deve ser em levado em conta pelos próprios fabricantes quando estabelecem o tempo previsto de uso de seus produtos.
A sociedade implacável do descartável é tão abrangente que não poupou nem mesmo a família. Nas gerações antepassadas, poucos eram os casamentos desfeitos. Nos dias de hoje, em vez da tentativa de diálogos conciliatórios, é bem mais fácil trocar de esposa ou marido, do que tentar consertar o casamento.
Um dia qualquer, tudo vai virar lixo...Inclusive você.
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segunda-feira, 23 de abril de 2007
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